terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ainda no domingo passei por lá...

Ainda não passaram 48 horas desde que George Bush escapou com vida a um ataque terrorista perpetrado por um jornalista membro de uma célula da Al Qaeda e dos No Name Boys. O vil ataque materializou-se pelo arremesso de um par de sapatos assassinos. O jogo de cintura do presidente americano evitou males maiores mas as leituras políticas são óbvias. No final do seu segundo mandato, Bush é alvo do mais grave insulto que se pode sofrer na perspectiva da cultura popular muçulmana, o equivalente a levar com uma tainha podre nas trombas em Peniche, ser agredido na Marinha Grande, um piropo gay na Madragoa ou até mesmo ser atropelado por um camelo albino em Marraquèsh. Este sinal de ingratidão do povo iraquiano, perante o representante máximo da defesa dos valores democráticos e da liberdade não é mais que o repetido sinal de que os cavaleiros do apocalipse começam a dominar o mundo sob a forma de mulatos afro-americanos. No entanto, se o mundo das hienas e do visco e da expectável e reconfortante repugnância se encontra agora em perigo, se os sapatos ignóbeis e de mau gosto do mundo pobre se aprestam a espezinhar milénios de uma cultura centrada na exploração dos povos e legitimada por concepções ideológicas concebidas para manter a “besta” sob controlo, se… ops, pedimos desculpa mas acabámos de sofrer uma interferência de ondas do programa da manhã da rádio do Seixal.
Depois do atentado, o presidente teve ainda a presença de espírito para sorrir; afinal de contas muito pior foi o destino das estátuas de Saddam. Um correspondente nosso, especialista em zonas áridas, devidamente colocado no interior da cabeça de George Bush, revela que se viveram momentos de tensão, quando toda a gente observou que poderia ter sido uma bota da tropa ou até uma máquina de lavar a roupa em vez de um par de sapatos.
No médio oriente as reacções não se fizeram esperar. O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad enviou ainda ontem um convite a Bush para discursar em Meca durante o Hajj. O parlamento iraquiano apresentou uma proposta para incluir a figura de um sapato com ou sem atacadores na bandeira nacional. Israel denunciou à comunidade internacional o Irão, pelo seu programa secreto de desenvolvimento de calçado de destruição maciça. As tendências da moda no Cairo recuperaram o uso das galochas e dos botins extremamente bicudos assim como na palestina os temas da lendária banda de rock Kiss ocupam os primeiros lugares dos tops.
Diz-se à boca fechada (o que requer alguma habilidade) que a administração americana se prepara para anunciar uma série de pesadas sanções económicas e desportivas a Portugal. Dizem os serviços secretos e duas ou três lojas maçónicas, que os sapatos em causa foram fabricados em Leça da Palmeira e adquiridos numa loja da Guimarães. No entanto o senhor Armindo, encarregado do sector de colas da referida fábrica, desmentiu tal suspeita de uma forma inequívoca utilizando para esse efeito um atoalhado turco enrolado à cintura – “ Eu agora é que estou a tomar o banho porque se não ia às fuças desse porco imperialista”.
Já para Nunes Rogério, analista político do café onde costumo ir, trata-se apenas de uma questão técnica - “ O meu palpite é que seja material chinês. Se repararem nas imagens em câmera lenta, vê-se uma alteração na trajectória do sapato que revela a falta de calibragem dos ditos e portanto a falta de qualidade do material. Até porque existe a possibilidade de o tacão ser de fabrico russo e de ter sido importado pela China a coberto da confusão gerada pelo verão quente de 75. O que é facto é que existe uma relação aparente entre estes sapatos e os mísseis Scud dos tempos de Saddam – ambos fazem um agradável efeito mas dificilmente acertam no alvo. O aviso que eu deixo é o de que há muitos iraquianos a comprar calçado na feira do relógio… quem quiser que tire as suas conclusões.”